A segurança do trabalho e a tragédia em Santa Maria

05/02/2013 08:27

Nestes últimos dias temos acompanhado com comoção o terrível acontecimento que ocorreu na cidade de Santa Maria, localizado no interior do Rio Grande do Sul, a pouco mais de 200 km de Porto Alegre, capital do estado.

Uma noite que era para ser de completa festa e alegria em um local fechado e totalmente restrito considerando a sua estrutura física. Naquele momento, conforme é de conhecimento, ocorre a fatalidade gerada pela soma de diversos fatores que ajudaram na ocorrência deste problema que resultou na perda de mais 200 pessoas.

Um ponto fatal para que todos pudessem se locomover rumo a sua fuga diante do pânico é as saídas. Neste mesmo local, a conhecida como Boate Kiss, tinha apenas uma e contava com algumas barreiras para a utilização da mesma.

O decreto nº 38.273, de 9 de março de 1998, altera as Normas Técnicas de Prevenção de Incêndios, aprovada em 29 de abril de 1997. Ele diz que “as saídas de emergência são obrigatórias nas edificações previstas na NBR 9.077, da ABNT, e deverão obedecer às regras ali previstas”. É considerado obrigatório, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que exista uma segunda saída, ou seja,a porta de emergência.

Neste momento lembramos que a qualidade e a segurança sempre estiveram juntas nos locais de trabalho e também nos mais diversos ambientes com grande número de pessoas, mas em muitos casos, (logo penso em sua maioria) estes dois fatores são considerados como um custo agregado, ou seja, não gera lucros.

No momento em que se transcorre o pânico gerado pela situação, seja ela por incêndio ou outro problema, as pessoas buscam imediatamente a proteção e sua integridade física. Por este motivo, quando temos locais identificados e com opções de fuga identificados e ao mesmo tempo adequado para esta vazão de pessoas, automaticamente o risco diminui, certamente as pessoas baseada nas demarcações mesmo com pânico, serão orientadas pelas mesmas.

Embora a tragédia seja o exemplo de que sempre podemos melhorar, seja por uma ação preventiva - que acredito ser o mais importante neste caso -, a ação corretiva acaba perdendo seu valor diante de tamanha perda, mas devemos pensar nela prevenindo novas ocorrências.

Fatores tais como qualidade e segurança do trabalho devem ser vistos como fundamentais e nunca como custo agregado. Neste caso citado, o custo investido seria mínimo.

Todos, quando se sentem interpelados por algo que compõe a soma de risco e perda, sempre agem por intuição. Naquele momento, muitos seguiram aos banheiros por causa da iluminação deste local, sem saber que estavam seguindo rumo contrário da porta de saída (sim apenas uma existia no local). Naquele momento estavam em um ambiente confinado e sem nenhum identificação de auxilio, seja visual ou sonoro.

Neste artigo quero mostrar que o investimento necessário para salvar estas vidas seria muito ínfimo, no caso uma saída, demarcações, treinamento. Neste último, embora citado por alguns veículos de comunicação que os extintores seriam falsos, o treinamento agrega o poder de avaliar e saber usar este equipamento e tomar a decisão de uso.

Na soma de todos os fatores - a falta de qualidade somada à segurança -, temos uma decisão que não foi tomada de maneira preventiva, ou seja, avaliação dos riscos eminentes e a falta de qualificação de seus funcionários.

Embora com alvará vencido, o local, segundo os bombeiros daquela cidade, apresentava condições de uso e, neste momento, fica a pergunta: seguiram-se as regras e normas, mas o que faltou? Faltou melhoria contínua.

Minha experiência na área da qualidade me ensinou que “não é porque o problema não foi detectado, que ele não exista”, ou seja, devemos nos manter sempre atentos aos riscos e buscando sempre a chamada melhoria.

A qualidade nunca foi apenas medição ou inspeção de algo. Ela deve ser abordada no sentido da prevenção constante. Logo, temos o fator de segurança aliada e, neste caso, poderemos estar sempre à frente de problemas que podem ocorrer como fator surpresa.

Neste artigo quero alertar você, que vive dia a dia em sua empresa, seja no escritório ou no chão de fábrica, que o risco está onde não existe risco, pois neste exato ponto criamos um fator chamado de comodidade que torna este mesmo local um problema em potencial.

Converse com sua equipe e avalie como melhorar seu ambiente de trabalho, agregue valor de segurança a todos os potenciais riscos e mantenha-se sempre alerta, se não através de uma equipe de CIPA, ao menos elabore um manual de segurança do trabalho que deverá ser distribuído a todos que fazem parte deste local.

De momento fico triste pela perda das histórias que se foram e de vidas importantes que com certeza estariam somando futuramente nas decisões de nosso país.

Mas deixo este artigo para sua leitura, e uma frase: "O investimento jamais pagaria estas mais de 200 vidas, mas prevenia em grande parte estas perdas".

Como sempre digo, prevenir é melhor do que remediar, mas neste caso nem isso será possível.

Pense nisso!

Fonte: Artigo de Zafenate Desidério, publicado no site Administradores