Custos dos acidentes no trânsito
As estatísticas de trânsito das áreas urbanas da Região Metropolitana de Fortaleza aliam duas particularidades: o elevado número de guiadores de motocicletas dentre os acidentados e a maior permanência desse grupo nos hospitais de emergência. Infrações de trânsito como imprudência, consumo de bebida alcoólica, alta velocidade, ausência de capacete e falhas nas pistas de rolamento são as principais causas responsáveis pelos desastres, com elevado número de vítimas.
O crescimento exagerado nas vendas de motocicletas dos últimos anos antevia dificuldades de tráfego, diante da ausência total de corredores exclusivos para esse meio de transporte acessível a qualquer assalariado, por conta do longo prazo para amortização do débito gerado pela compra. Fortaleza dispõe de pouquíssimas ciclovias. Ainda assim, os ciclistas pouco valorizam a via própria de circulação, enfrentando o tráfego pesado das avenidas e rodovias.
Os motoqueiros, por sua vez, não contam com esse privilégio. Como, regra geral, pouco valorizam as normas do Código de Trânsito Brasileiro, eles se lançam numa aventura irresponsável, disputando ruas, avenidas e rodovias com os automóveis e veículos transportadores de cargas. As consequências estão retratadas nos registros de ocorrência tanto dos órgãos de trânsito como dos hospitais de emergência.
O Instituto Dr. José Frota computou, de janeiro a agosto deste ano, o atendimento nos seus serviços especializados de 10 mil vítimas de acidentes de trânsito. Essa elevada incidência tem gerado um custo expressivo para o Sistema Único de Saúde, exatamente pelo descumprimento das leis de trânsito. A Secretaria da Saúde do Estado levantou os números ilustrativos dos acidentados atendidos no IJF, constituídos exclusivamente por guiadores de motos, chegando a conclusões preocupantes. Uma vítima de acidente de trânsito de média complexidade demora pelo menos 30 dias numa unidade de tratamento intensivo (UTI), ao custo diário de internação de R$ 1.200,00. Ao longo do mês, a despesa para o SUS será de R$ 36.000,00. Se houver qualquer procedimento cirúrgico, a fatura se eleva para R$ 46.000,00 mensais por falhas evitadas por uma boa formação de condutores e bom senso no trânsito.
A média de guiadores acidentados corresponde aos trabalhadores em idade requisitada para o mercado formal de trabalho. Além da baixa no trabalho, o motoqueiro, quando estiver na condição de empregado formal, imporá ao Instituto do Seguro Social (INSS) um ônus financeiro inicialmente em decorrência de licença. Nos casos graves de impossibilidade laboral, a licença é substituída pela aposentadoria.
As infrações graves no trânsito causaram, neste ano, a apreensão de cinco mil veículos, 2.203 motocicletas e 713 mobiletes. Esses números denotam a indisciplina do guiador e o desrespeito para com a sua vida e a de seu semelhante. Os acidentes com expressivo número de baixas têm na falha humana a sua causa mais recorrente. Essa tragédia diária pode ser mitigada. Para tanto, há necessidade de um choque de ordem no trânsito, com a aplicação de medidas corretivas e punitivas e, acima de tudo, o retorno à autoescola em bases modificadas.
Fonte: Diário do NE