Pipas: Arma ao alcance das crianças

18/07/2011 15:53

Julho, mês de férias escolares. Sobra mais tempo para as crianças empinarem pipas. Mas basta ver os número de acidentes para perceber que essa não é uma brincadeira tão inocente.

Segundo a AES Eletropaulo, desde o início do ano, ocorreram três acidentes com vítimas envolvendo a rede elétrica da empresa no ABCD, um dos quais aconteceu na semana passada, em São Bernardo.

Um homem morreu enquanto tentava desenroscar uma pipa de um poste.

“Os acidentes envolvendo pipas e a rede elétrica são a segunda maior causa de problemas para a rede da AES. Só perde para os incidentes em obras”, destacou o gerente de segurança da Eletropaulo, Marcelo Puertas.

Mesmo assim, na tarde ensolarada da última quinta-feira, no bairro Ferrazópolis, em São Bernardo, crianças e adolescentes aproveitavam o tempo livre para se arriscar soltando pipas sob as torres de eletricidade que cortam o local.

Um deles era o estudante F.S., 16 anos. Ele diz ter aprendido a soltar pipa muito tarde, apenas aos 13 anos. Mesmo assim, já se definia como um verdadeiro ás dos céus.

“Aproveito as férias para soltar pipa. Eu gosto muito, principalmente de cortar a linha dos outros”, ressaltou F.S., que afirma não ter medo de brincar entre os fios de alta tensão. “Nunca aconteceu nada com alguém”, completou.

ELETROPAULO /Numa comparação com o restante da região metropolitana, as sete cidades do ABCD foram as únicas em que houve aumento no número de acidentes. Por esse motivo, segundo Puertas, a região está recebendo atenção especial nos programas de prevenção da empresa.

Dentre as ações apresentadas pelo gerente, estão palestras em empresas e escolas, além da distribuição de panfletos explicativos.

“Desde o início do ano, mais de 80 mil pessoas já participaram dos eventos de orientação da AES”, garantiu.

Na EM Sagrado Coração de Jesus, no Jardim Gazuza, em Diadema, acidentes envolvendo pipas foram tema de um trabalho desenvolvido por estudantes do Ensino Fundamental.

Ao longo de quatro meses, os alunos fizeram discussões em sala de aula, que resultaram em uma maquete com o local ideal para os brinquedos, além de uma letra de música com o tema.

“Pelo trabalho, percebi que as crianças tem noção de qual  o local ideal para soltar pipas, que seria uma quadra, longe de postes de energia. Mas por falta de opção, elas acabam brincando na rua”, ressaltou a professora.
 
Só para maiores de 15
Na mesma tarde em que o BOM DIA observou crianças  soltando pipas sob torres de alta tensão, outro problema chamou a atenção da reportagem. Apesar de proibida por uma lei estadual de 1998, a venda do cerol – mistura de cola e vidro moído utilizada para cortar a linha de outros brinquedos – acontece livremente no ABCD.

Era só olhar para os carretéis para notar o tom amarelado das linhas, um indicativo do uso do produto. “Algumas vezes a gente faz o cerol, e em outras a gente compra. Encontrar não é difícil”, garantiu B.C., 14 anos.

Em São Bernardo, a administração municipal informou que, desde o início do ano, não foram registradas apreensões de cerol. A reportagem, porém, conseguiu comprar por R$ 1, numa viela do bairro Ferrazópolis, um recipiente com aproximadamente 200ml da mistura.

Nos aproximamos de um grupo de jovens que soltavam pipa, e pedimos a ajuda de alguém que estivesse disposto a comprar o produto. Rapidamente, os mais novos recuaram. Disseram que o lojista não vendia o produto para menores de 15 anos. Outros dois jovens, aparentando mais idade, porém, se apresentaram como voluntários.

Seguimos os adolescentes por cerca de 100 metros, até o ponto em que eles entraram por uma viela estreita e escura, onde havia uma loja de pipas. Em cerca de cinco minutos eles retornaram com uma sacola preta nas mãos. No interior, um pote lacrado, com tampa vermelha, onde estava o produto.

SEM DADOS /As prefeituras da região e o Corpo de Bombeiros não possuem dados específicos sobre problemas  causados pelo cerol. Por exemplo:  um acidente envolvendo um motoqueiro ferido ou morto pela mistura acaba sendo registrado  na categoria das ocorrências  de trânsito.
 
Zona de exclusão 'aérea'
Os riscos representados pela brincadeira já causam movimentação inclusive no setor público. Em Santo André, um projeto de lei do vereador Marcos Cortez, o Marcos da Farmácia (PSDB), pede a proibição de soltar pipas em locais públicos. O projeto, porém, ainda não  não foi votado pela Câmara.

 
Fonte: Rede BOM DIA