Temor nuclear pode travar construção de Angra 3

21/04/2011 21:39

Angra dos Reis/RJ - A gravidade do acidente nuclear no Japão, em seguida ao terremoto e ao tsunami que atingiram o país no dia 11 do mês passado levou intranquilidade e medo ao mundo, antes mesmo de as autoridades japonesas elevarem o alerta da crise para o nível máximo na semana passada. A decisão só foi tomada depois que a radioatividade na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, no Nordeste do país, chegou ao nível 7, o mais alto para acidentes nucleares e só usado anteriormente durante o desastre de Chernobyl, no Norte da Ucrânia, em 1986.

A Comissão de Segurança Nuclear do Japão informou que a classificação da crise em Fukushima Daiichi estava sendo elevada por se tratar de uma avaliação preliminar que ainda precisa ser confirmada pela Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea). Independente de qualquer outra interpretação, a energia nuclear se tornou quase maldita na maior parte do mundo.

No Brasil, foram inúmeras as discussões sobre o tema. E embora o governo mantenha a disposição de construir Angra 3, muito provavelmente a obra, que está atrasada quase 30 anos não será executada. É tamanha a contrariedade que as críticas surgem de todos os lados. Na semana passada, por exemplo, o multiempresário Eike Batista chegou a afirmar que a energia nuclear é "um monstro" e se mostrou contrário à construção da usina nuclear de Angra 3.

Segundo Eike, após essa crise os custos dos projetos nucleares vão aumentar muito como resultado da maior cobrança da sociedade e isto inviabilizará investimentos. "Essa conta começa a ficar impagável", disse.Um dos sinais de mudança, para Eike, foi a decisão quase imediata da Alemanha de suspender os sete reatores mais antigos e inspecionar a segurança das 17 usinas nucleares no país.

O empresário carioca chegou a afirmar que tinha preocupação com a proximidade do Rio de Janeiro em relação às usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2. "Não quero sair daqui, estou investindo tanto dinheiro", disse.

Movimentos ambientalistas também pediram a autoridades da Alemanha que desistam do acordo com o Brasil, assinado em junho de 1975, que prevê um subsídio de ¤ 1,3 bilhão  (cerca de R$ 3 bilhões) para a construção de Angra 3, no município de Angra dos Reis (RJ). A iniciativa partiu da ONG Urgewald e de outras dez instituições, que assinaram carta enviada à chanceler Angela Merkel e aos ministros da Economia, das Finanças e das Relações Exteriores.

No documento, as ONGs alegam que o Brasil é um país com baixos padrões de segurança e não conta com uma fiscalização nuclear independente. Como argumento, citam o caso de Angra 2 — também resultado do mesmo acordo com a Alemanha —, que funciona há dez anos sem licença permanente. Os ambientalistas alegam ainda que o projeto de Angra 3, feito nos anos 1980, está ultrapassado. E que, por isso, apresenta sérios problemas relativos à segurança das pessoas e do ecossistema.

Desde a década de 1970, quando assinou o acordo com o ex-presidente Ernesto Geisel em pleno regime militar, a Alemanha colabora com o programa nuclear brasileiro. No caso de Angra 3, o país se comprometeu em subsidiar a empresa alemã Siemens, que forneceria os equipamentos e insumos para a construção da usina. Este tipo de subsídio estatal tem o objetivo de proteger as empresas alemãs em caso de fracasso de empreendimentos no exterior. No ano passado, a Alemanha reafirmou seu compromisso com Angra 3, mas nenhum contrato chegou a ser assinado entre os dois países. "A região prevista para Angra 3  sofre fortes chuvas e está sujeita a deslizamentos. Em casos como estes, a rota principal de fuga, a rodovia Rio-Santos, geralmente é interditada. Se houver acidentes, será preciso retirar cerca de 170 mil pessoas dali. Sem a rodovia, fica difícil", argumentou Barbara Happe, consultora da ONG Urgewald, que já morou no Brasil.

Fonte: Jornal do Comércio